( Crato-ce ) O CALDEIRÃO DO BEATO JOSE LOUREÇO
QUANDO A SEMENTE DO SOCIALISMO FOI PLANTADA NO SERTÃO E ARRANCADA À FORÇA
O Ceará, distante do litoral, embora possua mananciais de água potável e possua uma flora invejável, também sofreu com períodos longos de chuvas escassas, que levou o povo a situações de verdadeira calamidade. No século XX , a falta de apoio por parte dos políticos é notória e a seca no nordeste, mantém cativa uma boa parte da população, que tem como opções de sobrevivência o misticismo religioso, o trabalho escravo nos latifúndios dos coronéis ou o cangaço, que tem como líderes, o lendário Virgulino Ferreira da Silva (O Lampião) e Antônio Vicente Mendes Maciel ( Antônio conselheiro).
A fé do Nordestino, que manifesta-se em épocas de romaria, teve início em meados do século XX com o surgimento de diversas crenças religiosas cristãs e pagãs. Líderes religiosos e profetas populares enxergavam a miséria como castigo divino e sinal dos fins dos tempos. Encorajavam o povo a fazer penitências para obter a salvação de suas almas e assim terem acesso ao paraíso.
Nesse período de sofrimento entra
Natural da Paraíba, ainda jovem deixou seu lar para trabalhar em fazendas de gado próximas a sua cidade. A fama do Padre Cícero e seus feitos propaga-se pelo Nordeste e chega aos ouvidos dos seus pais que
mudaram para Juazeiro do Norte, no Ceará. José Lourenço retornou a casa paterna, agora sediada em Juazeiro do Norte, no ano de 1890. Conquistou a amizade do famoso padre e se integrou às seitas de penitentes, (Os praticantes rezavam em cemitérios pelas almas do purgatório e praticavam a auto-flagelação para a purificação dos pecados).
Adaptando-se a vida na localidade, José Lourenço Arrendou o sitio Baixa Dantas e ali formou uma comunidade de
Em 1921, Pe. Cícero fez a doação de um boi para melhorar a raça do gado local e assim surgiu um boato de que o boi estava sendo adorado pela comunidade do sítio. Floro Bartholomeu, chefe militar de Juazeiro, num ato denominado por ele de “Combate ao Fanatismo” prendeu o Beato José Lourenço por mais de 18 dias, matou o boi, vendeu as terras e expulsou os camponeses sem nenhuma indenização.
Padre Cícero compadeceu-se e os enviou para a fazenda de sua propriedade, Caldeirão dos Jesuítas, um terreno árido de
A comunidade era pacífica e vivia da lavoura e de orações, porém, José Lourenço, seu líder, continuava sendo considerado uma ameaça pelas elites do Ceará, que viam no beato um líder comunista.
Com a morte do Pe. Cícero, aproveitaram-se do fato das terras pertencerem aos padres salesianos pelo testamento religioso desde 1923, e a ordem dos padres salesianos passou a cobrar tributos pelo usufruto da terra. Em 1936, o Bacharel Raymundo Norões Milfont, representante político dos padres, solicitou reintegração de posse do terreno.
Ainda em 1936, autoridades ouviram relatos do Capitão da polícia militar José Bezerra, que havia espionado a comunidade em busca de armas e apesar de não as ter encontrado, falou que temia que houvesse uma grande revolução socialista, pelo interior, caso a comunidade caísse
Retornaram 14 dias depois e encontraram pessoas da comunidade dispersas no pé da Serra da Conceição e na Serra do Araripe, sob constante maus tratos das autoridades.
No início de 1937, correram boatos de que grupos de pessoas chefiados por Severino Tavares, atacariam o Crato. Então 11 Soldados liderados pelo capitão Bezerra, foram checar as informações, entraram em conflito com os camponeses e morreram. Dentre eles: O capitão, três praças e cinco camponeses, inclusive o Severino.
O acontecimento gerou revolta por parte do governo. O Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra, para vingar a morte do capitão, colocou a disposição do governo cearense aviões sob a responsabilidade do Capitão José Macedo para reconhecimento da zona e localização dos camponeses e com ordens para matar qualquer pessoa vestida de preto que portasse um rosário. Em 11 de Maio de 1937, cerca de 700 lavradores foram massacrados pelos aviões, e 200 patrulheiros vasculharam a Chapada do Araripe. Mesmo depois do massacre os policiais continuaram a busca e o extermínio.
Em 1938, José Lourenço retornou ao Caldeirão e lá permaneceu por mais dois anos, até ser expulso novamente pelo procurador dos salesianos. Montou outra comunidade no Sítio União, no Exu, comprado com os 7 contos de réis recebidos em indenização por parte dos bens do caldeirão. O beato veio a falecer em 12 de fevereiro de 1946 no Sítio União, vítima de peste bubônica. O corpo foi levado pelos fiéis à Juazeiro do Norte. Pediram que o monsenhor Joviniano Barreto rezasse uma missa de corpo presente. O monselhor não permitiu que entrassem com o corpo na capela e se negou a atender ao pedido dos fiéis, alegando que não celebrava missa para bandido. O velório foi feito na casa de Eleutério Tavares e debaixo de chuva os amigos do beato fizeram o sepultamento do corpo no Cemitério do Socorro.
Texto: Evandro Rodrigues de Deus
- A CIDADE DE FREI CRALOS, Pe. Antônio Gomes de Araújo, 1971. Crato-ce.
- Revista Itaytera 1995.
Sítios:
- pt.wikipedia.org
- municípios.com.br
Comentários:
Postar um comentário
DÊ AQUI SUA OPNIÃO SOBRE ESTA MATÉRIA